Superando os limites por meio da dança
Publicada em 17/05/2013 às 18:05Ana Maria Querino, 42 anos, é uma mulher simpática, vaidosa e sorridente. Trabalhou por quase 20 anos no Hospital São Vicente, está no segundo casamento (diz, meio sem jeito, que conheceu o novo marido há pouco mais de dois anos, via Facebook) e adora música e dança. Nem mesmo o fato de usar um par de muletas há anos, em razão de uma poliomielite contraída aos oito meses de idade, tirou de Ana a vontade de fazer tudo o que gosta.
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Pequenina – não deve ter muito mais que um metro e meio de altura – Ana se solta, rodopia, é deslizada chão afora e cresce durante sua coreografia, na manhã desta sexta-feira (17), em um das salas do Complexo Dr. Nicolino de Lucca, o Bolão. Naquele espaço, o Peama (Programa de Esportes e Atividades Motoras Adaptadas) ensaia para sua 4ª Mostra de Dança, que acontece no próximo dia 30 de maio (quinta-feira), no Polytheama.
“Minha vida mudou depois que comecei a frequentar o Peama”, conta. Para Ana, o lugar trouxe um “grande alívio”, uma melhora fisioterápica e mental. Lá, além da dança, ela também faz natação. E, entre coreografias e braçadas, quer ir mais longe. “Quero fazer ainda mais atividades.”
Durante o ensaio, Ana e mais quatro alunos eram regidos com maestria pelo dançarino e coreógrafo Carlinhos Faustini, enquanto outros olhavam a tudo com atenção por meio de uma janela de vidro que dá no corredor. Carlinhos explica que serão 13 coreografias e outras 4 participações de canto coral, numa apresentação de aproximadamente 2 horas, com a presença de 30 alunos atendidos pela instituição.
O que vem de novo
Algumas novidades podem ser desvendadas durante o ensaio. Assim que Carlinhos liga o aparelho de som, os movimentos leves e compassados da turma ganham sentido com a música que pulsa dos falantes para tomar a sala de assalto. O rock clássico e inconfundível dos ingleses do Queen será a trilha sonora em todos os números do evento. A música de Freddie Mercury e sua banda promove um inesperado e emocionante diálogo com a coreografia.
O resultado desse encontro dá luz a uma peça musical vibrante, colorida e abrangente, onde rock, música de coral e capoeira coexistem harmonicamente sob o teto da universalidade musical. Uma beleza de se ver. A letra de Bohemiam Rhapsody, um dos clássicos do quarteto bretão, não poderia ser mais oportuna: “Abra teus olhos, olhe para os céus e veja, eu não preciso de compaixão.” É de arrepiar.
Na apresentação, o Peama contará com reforços de peso para lotar o Polytheama: alunos da APAE de Várzea Paulista, Estúdio La Dance, Grupo Bem te Vi, Amarati e o Coral Jovem da PIO X. Além, é claro, do maculelê africano, cortesia da Nação Cultural.
Juntas no palco
Tânia Rosolem se auto-intitula mãe e voluntária. É como uma profissão de fé. Faz parte da vida do Peama há 17 anos, desde que a instituição começou a dar os primeiros passos. Sua filha, Camila Tamara, esteve presente em todos os outros festivais de dança.
A jovem loira, de 26 anos e riso acanhado, é bailarina, trabalha como promoter, já apareceu no programa da Xuxa e mexe em seu celular com uma desenvoltura incrível. Ela também tem Síndrome de Down. “Eu preciso mais do Peama do que ela”, desabafa a mãe, com os olhos nitidamente marejados. Ambas estarão juntas no palco, abrindo a apresentação.
“Será uma analogia sobre o parto, do momento da ruptura do cordão umbilical e da relação mãe-filha”, conta Tânia, que define o Peama como “uma síntese potencializada do que as entidades assistenciais da cidade estão fazendo”. Ao todo, Camila fará 5 coreografias, o que motivou a mãe a adiar mais um pouco a cirurgia da filha para correção de sopro cardíaco.
Serviço:
4ª Mostra de Dança do Peama
Quinta-feira (30), às 19h30
Teatro Polytheama
Rua Barão de Jundiaí, 176, Centro
Entrada gratuita
Por Thiago Secco
Fotos: Fotógrafos PMJ
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