ESPECIAL: Uma vitória embalada pelo som do coração
Publicada em 16/01/2014 às 18:39Ariane Cantuaria da Silva, 24 anos, moradora no bairro Fazenda Grande, concluiu em 2013 a faculdade de engenharia química na UniAnchieta. Ela dirige desde os 18 anos e é noiva. Uma história relativamente comum se não fosse o fato de Ariane ser uma surda bilateral severa profunda (congênita) – a surdez mais grave que existe e que a acompanha desde o nascimento.
Mas a determinação e persistência falaram mais alto na vida dessa jovem que até foi orientada a escolher um curso “mais fácil” na faculdade. “Eu quero mostrar para todo mundo que sou capaz e que qualquer pessoa pode alcançar um sonho, basta acreditar”, fala Ariane com uma certa dificuldade, mas que ela considera uma vitória por conseguir se expressar. Ela tem muita habilidade para a leitura labial, sua principal língua, o que proporcionou desenvolver a fala. A libras (linguagem de sinais) entrou na vida de Ariane apenas na faculdade. O resultado de toda essa dedicação é receber o mérito de ser uma das primeiras pessoas com surdez severa profunda a se formar em engenharia química no País.
“Quando descobrimos que Ariane era surda, isso com pouco mais de 1 ano de vida, vimos o mundo desabar. Mas ela mostrou para a gente que essa deficiência não era problema ao conseguir montar um quebra-cabeças que o irmão mais velho não conseguiu”, explica o pai, Acilvio. Ele conta que após perceber o potencial da filha, começou a estimular o desenvolvimento cognitivo dela. “Comprava jogos lúdicos, cheguei a colar uma tabuada no teto do quarto para estimulá-la”, diz.
Na casa, os objetos eram identificados por papeis com os nomes de cada móvel ou detalhe que auxiliasse a vida de Ariane. Mas foi na idade escolar que tanto Acilvio quanto a mãe Marta perceberam que ela teria uma vida independente. “Há mais de 10 anos a aceitação de uma criança surda com outros alunos em uma sala de aula era extremamente complicada. Muitas escolas particulares não aceitaram minha filha”, desabafa a mãe. Mas na Emeb Dr. José Romeiro Pereira, mais conhecida como Geva e localizada na Vila Arens, os pais tiveram a certeza de que a filha poderia crescer entre colegas e ser uma aluna “comum”.
“Ela teve todo o apoio dos professores que dispensavam alguns segundos a mais na explicação falando diretamente para Ariane para que ela pudesse entender a aula e com isso, ter a segurança de continuar os estudos”.
A Secretaria Municipal de Educação assegura aos alunos com deficiência o acesso a um sistema educacional inclusivo em todos os níveis. Hoje, existem 475 deficientes matriculados na rede municipal de ensino, entre eles, auditivos, visuais e físicos, além de portadores de transtorno global do desenvolvimento.
“Trabalhamos para garantir a inclusão de todos eles, dando-lhes condições de igualdade com os demais. Implementamos salas de recursos que oferecem atendimento educacional especializado, criamos a função do professor de Apoio à Educação Inclusiva e firmamos convênio com várias entidades, como APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e Ateal (Associação Terapêutica de Estimulação Auditiva e Linguagem)”, comenta o secretário de Educação e vice-prefeito, Durval Orlato.
Em 2013, a secretaria aumentou 60% o atendimento de inclusão. Somente deficientes auditivos, por exemplo, havia, em 2012, 40. O ano passado, foram atendidos 56. “Queremos que história de Ariane, incluída na nossa rede municipal de ensino, se repita”, afirma.
Adolescência
Do quinto ano do ensino fundamental ao ensino médio, Ariane estudou no Colégio Memorial e em 2009 ingressou na faculdade por influência de um professor de química. Na ocasião, ela visitou e conheceu o funcionamento de uma indústria de refrigerantes. “Ela ficou fascinada e ninguém tirava da cabeça dela a ideia de fazer engenharia química”, conta o pai, que é consultor e corretor de imóveis.
Foram 5 anos de dedicação, madrugadas em claro estudando para conseguir concluir e ter uma profissão sem ficar com nenhuma matéria pendente. “Teve uma noite que levei o maior susto ao entrar no quarto dela e me deparar com várias bolinhas de folha de caderno espalhadas pelo quarto. Era a forma que ela encontrava de estudar as fórmulas: resolvendo, rasgando e começando a resolver tudo de novo”, conta Marta, que é cabeleireira.
Ariane, inclusive, cumpriu o estágio exigido pela faculdade. Uma das etapas consideradas mais difíceis pela família pelo fato de as empresas ainda resistirem em relação a deficientes. “Muitas abrem as portas mas querem colocá-los em linha de produção. Mas ela é formada e especializada em uma área, tem potencial para trabalhar como qualquer outra pessoa”, diz o pai. O próximo desafio é conseguir um emprego na área.
Mas os estudos não vão parar por aí. Ariane pretende fazer pós-graduação, doutorado e mestrado na área. E não é apenas nos estudos que a jovem inspira muita gente. Aos 18 anos, quando tirou permissão para dirigir, muitos vizinhos a usaram como exemplo e tomaram coragem de também adquirir a habilitação. “Queremos que a história da Ariane se espalhe por todos os cantos para mostrar que é possível a conquista, basta persistir e acreditar”, diz Acilvio.
Por Kadija Rodrigues
Fotos: Dorival Pinheiro Filho
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