Especial: Alunos da rede aprendem um novo olhar
Publicada em 28/03/2014 às 16:55É dentro da classe que abriga a turminha do 1º ano A, na Emeb Adelino Brandão, no bairro Cecap II, que o pequeno Jeferson, de 6 anos, se anima agitado pelas carteiras pouco antes de mais uma aula da oficina de fotografia.
Durante a lição, que durou quase 1 hora na tarde desta quarta-feira (26), Jeferson e outros 20 amiguinhos – com idade entre 6 a 7 anos – começaram a desenvolver a sensibilidade, a paciência, o olhar contemplativo e outros sentidos, matéria-prima essencial para quem pretende dar o primeiro clique no mundo da fotografia, garante o professor, Júlio Montheiro, fotógrafo profissional há quase 30 anos.
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Com o olhar arregalado na direção do professor, o menino, assim como toda classe, foi orientado a ficar de pés juntos e a respirar fundo e compassadamente. Depois, de olhos fechados e mergulhados no silêncio curioso que os tomava, foi fácil sentir os batimentos cardíacos do coração pelo toque da mão direita. Por último sentiram o coração vibrar pelo toque da ponta dos dedos no pulso. Para eles foi uma descoberta e tanto. “Eu adoro as aulas de fotografia”, garante Jeferson, enquanto olha curioso uma foto feita pelo professor, que mostra o cego com seu acordeão na rua Barão de Jundiaí, no Centro, em troca de algumas moedas e aplausos.
Yuri, de 6 anos, fica na carteira logo atrás de Jeferson. Foi um dos primeiros a terminar a tarefa seguinte: fazer de um papel sulfite um rolinho parecido com um óculo imaginário. Foi logo levando o canudo em direção ao olho direito, em contato com a lente dos óculos e apontando para todos os lados da classe. “O mais legal dessa aula é poder desenhar e procurar coisas diferentes na escola pra ver”, disse, olhando pela luneta de papel.
Foi o que veio depois. O professor, acompanhado da monitora Joyce, levou a meninada com seus canudos de papel para que todos pudessem, por meio deles, enxergar e descobrir novas cores, números e formas, numa clara referência à lente da máquina fotográfica.
A brincadeira era descobrir elementos que começavam com a mesma letra do nome dos alunos. O grupo, então, percorreu todo o espaço interno da escola, olhando para cada detalhe do lugar – uma extensa e organizada área do tamanho de um quarteirão, entre as ruas Uva Isabel e Uva Paulistinha.
Nas próximas aulas, os alunos começam a fazer as primeiras fotos com equipamentos de verdade.
Mais educação
A coordenadora da Emeb, Sônia Aparecido Sígoli, explica que a escola conta com pouco mais de 600 alunos em período integral. Foi justamente por conta desse requisito, que a unidade conquistou investimentos do Programa Mais Educação, iniciativa do Governo Federal que encontrou em Jundiaí a parceria da Secretaria de Educação, que pleiteou o benefício e cumpriu com todos os requisitos exigidos para ter acesso ao crédito.
Com o incentivo financeiro, foi possível dar início não só à oficina de fotografia, mas também às aulas de jardinagem, vôlei e até hip-hop, que passaram a fazer parte da grade curricular dos alunos. “É a primeira vez que dou aulas para crianças com essa periodicidade, como matéria de escola”, revela Júlio, que tem como parceiros na docência os fotógrafos Lucas William Casale e Grace Sanches Lucas, seus ex-alunos.
No fim da aula, Jeferson garante que já ensaia os primeiros cliques no celular da mãe. Yuri já sonha com o que fotografar: uma moto elétrica infantil, “daquelas que se parecem com uma Harley Davidson”.
Thiago Secco
Foto: Paulo Grégio
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