ESPECIAL: Encantar crianças é sua profissão
Publicada em 25/07/2014 às 18:03Dos tempos de criança, Hélio Rubens de Oliveira Berol guarda um saudosismo afetuoso ao falar de suas idas ao circo, sempre ao lado do pai, Rubens. À época, a principal alegria do menino era ficar grudado na cadeira com a adrenalina do número dos malabaristas; pasmar-se com o inexplicável show de mágica e, principalmente, gargalhar – solta e ingenuamente – com as confusões dos palhaços.
“Era um universo que me encantava e que continua me encantando. Faz muito tempo que não vou ao circo”, lamenta, durante uma breve caminhada pela área externa do ginásio Dr. Nicolino de Lucca, o Bolão, onde trabalha há quatro anos entre o setor operacional e a secretaria.
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O carinho pela arte mambembe o acompanhou por quase todos os 47 anos de vida. Quando jovem, chegou a comprar pelo correio um kit de mágica, apresentando-se para alguns chegados pouco depois. O que o jundiaiense não imaginava era que esse mesmo sentimento, da arte pela arte, o sacasse de um sufoco e, ainda mais: que abrisse um novo caminho, repleto de possibilidade.
O ano era 1994. O ex-metalúrgico Hélio estava há quase cinco meses desempregado. Casado e pai de dois filhos pequenos, viu uma oportunidade na conversa com um vizinho, que sugeriu que ele fizesse um bico como Papai Noel no Natal daquele ano.
Esguio e meio sem jeito, ele resolveu encarar o desafio. “Eu acabei gostando da coisa e, pouco tempo depois, comprei minha própria roupa e a barriga postiça. Sou muito emotivo e acho que essa sensibilidade acabou ajudando”, relembra, emocionando-se com a vez em que uma criança o chamou de dentro de um carro e pediu para tocar na barba dele. “Era uma criança cega de 5 anos. Enquanto ela apalpava minha barba, disse: ‘sempre tive vontade de conhecer um Papai Noel de perto. Hoje chegou a minha vez’. Não contive a emoção naquele momento”, revela.
A vez do palhaço
Entre chegadas triunfais de carruagem e helicóptero (a única vez em que voou), já são 20 anos em que é disputado por lojas, galerias comerciais e shoppings nos fins de ano. Mas, desde 2013, o Papai Noel vem disputando espaço no alterego de Hélio com o palhaço Cornetinha, criação própria que vem ganhando forma e colorido nos fins de semana e já é dono de um blog na internet. Incluam-se aí algumas atrações da agenda da Secretaria de Esportes e Lazer, como o “Arraiá do Siqueira”, ocorrido no Jardim Martins no último fim de semana.
“O Cornetinha nasceu no Dia das Crianças de 2013, lá no Sindicato dos Metalúrgicos. O legal é que mesmo com toda a tecnologia, a criançada se interessa por brincadeiras mais tradicionais, manuais, e não desgrudam a atenção na hora em que conto história”, diz o criador, afirmando que, como Cornetinha, ele não tem vergonha na hora de dançar, cantar e brincar com a meninada. “Sem a roupa de palhaço, sou muito mais tímido.”
Agora, para continuar a brincadeira, Cornetinha busca por um parceiro para dar mais corpo às apresentações. Quem não anda tão feliz assim é Sônia, mulher de Hélio há 25 anos, que concorre com a caricatura nos fins de semana. Com um agravante: “Minha mulher tem pavor de palhaço!”, conta, caindo na gargalhada como nos tempos de criança.
Thiago Secco
Fotos: Paulo Grégio e PJ
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