Ponte Torta convida a depoimentos de moradores
Publicada em 03/11/2014 às 19:04O projeto de Ações de Conservação e Zeladoria da Ponte Torta, iniciado pela Prefeitura de Jundiaí em parceria com o Estúdio Sarasá, segue a linha adotada pelo escritório especializado em buscar o envolvimento da comunidade – inclusive para surpresas de novas descobertas. Na primeira fase (chamada “entendimento”), o projeto realiza em novembro os encontros abertos das 14h às 17h nas sextas-feiras, na Biblioteca Pública (dia 7), no Solar do Barão (14), na carreta ao lado da Ponte Torta (21) e no encontro das avenidas Nove de Julho e Luiz Latorre (dia 28), sempre com gravação de depoimentos.
De acordo com o diretor de Planejamento, Décio Luiz Pinheiro Pradella, a busca de participação social é uma medida essencial para o conceito adotado pelo projeto.
“Em Santana do Parnaíba, esse processo levou a uma descoberta inédita de ruínas do que deve ter sido um moinho colonial, tudo pela cooperação de moradores”, comenta o coordenador da equipe, Toninho Sarasá.
Os trabalhos de novembro, que incluem palestras em todos os encontros, fazem parte da fase chamada Entendimento, seguida em outros meses pelas fases de Pertencimento e finalmente de Empoderamento. Até mesmo a prensagem de tijolo (ícone do projeto) no local pode ser usada ao longo desse caminho.
Para Pier Paolo Pizzolato, professor de restauro no curso de arquitetura da Universidade Paulista (Unip) e que trabalha há 10 anos no projeto de recuperação do Complexo Juqueri, em Franco da Rocha, o método adotado e a escolha do ícone são importantes no caso da Ponte Torta.
“No Brasil tivemos esse tipo de abordagem comum em muitas cidades, especialmente nos pontos históricos do Nordeste. Uma exceção foi o caso do Pelourinho, em Salvador, imposto de forma inadequada de cima para baixo para muitos moradores do local. O envolvimento, incluindo até mesmo a capacitação de grupos excluídos, é usado há muito tempo na Europa”, comentou.
Moinho
O caso citado em Santana do Parnaíba foi divulgado em junho e começou quando o arquiteto Victor Hugo Mori, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ouviu durante palestra do mesmo tipo de projeto de zeladoria do patrimônio que um morador conhecia uma construção antiga, no meio do mato, num lugar conhecido como Sítio do Morro.
Entre visitas técnicas, o historiador Francisco Dias de Andrade (da Unicamp) apontou que as ruínas poderiam ser de um dos “fundadores” da cidade e construídas entre 1620 e 1625, época inicial de Santana do Parnaíba e também de Jundiaí. A produção de trigo era proibida pela Corte de Portugal na colônia, mas já apontada por pesquisadores como John Monteiro como um produto de exportação que gerava renda extra à sociedade paulista, que vivia de aprisionar e vender índios como escravos.
Em Jundiaí, o projeto não espera surpresas como essa, mas sempre pode acontecer. O foco dos depoimentos esperados para as próximas semanas segue principalmente a ligação afetiva da cidade com o monumento da Ponte Torta (ou Ponte dos Bondes), que muitos moradores veteranos podem registrar com a equipe do projeto.
“Foi muito bom participar. Eu passava por aquela ponte ainda no tempo em que era usada como caminho entre o Anhangabaú e a Fábrica São Bento, na Vila Arens, levando o almoço para os familiares que trabalhavam nessa tecelagem”, comentou Maria Felisberto, de 90 anos, sobre o registro de depoimentos.
José Arnaldo de Oliveira
Foto: Paulo Grégio
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