Missa Afro emociona em mensagem de igualdade e paz
Publicada em 20/11/2015 às 15:11Em uma cerimônia de ecumenismo com elementos de origem europeia e africana, a Missa Afro abriu a Virada Negra na noite de quinta-feira (19), na Catedral Nossa Senhora do Desterro, com uma mensagem de igualdade e paz depois de lembrar da marca da escravidão na história brasileira e jundiaiense.
Inspirada na obra de Milton Nascimento, a solenidade equilibrou toques de sobriedade e de alegria.
“Fiquei muito emocionado. Esse encontro representa muito para nossa história e nossos ideais”, afirmou o prefeito Pedro Bigardi, que compareceu ao evento com a primeira-dama e presidente do Fundo Social de Solidariedade, Margarete Geraldo Bigardi.
Centenas de pessoas também participaram da Missa Afro. Para o bispo diocesano, dom Vicente Costa, a cidade de Jundiaí é linda, mas também conservadora no sentido de ainda se questionar o motivo de um evento desse tipo no ambiente católico. “Trabalhei como padre em outras regiões, como o Paraná e o Rio Grande do Sul, onde a presença de migrantes fez surgir uma pastoral sobre a valorização das culturas diferentes”, afirmou.
Vindo de Salvador, na Bahia, o babalorixá Babá Paulo de Airá (do terreiro Aladeí) afirmou ser a segunda vez em que comparece na comemoração do Dia da Consciência Negra em Jundiaí. “Venho também na marcha que ocorre na manhã do feriado, no Centro. É muito bonito o trabalho que vocês fazem na cidade, todos são iguais”, comentou.
Com 23% de sua população autodeclarada negra ou parda no Censo 2010 (o equivalente a mais de 90 mil pessoas), a cidade mostrou beleza com as cores de trajes típicos e com a qualidade do Coral Afro 28 de Setembro, com regência do músico Mil Taroba, que saudou a entrada da figura de Nossa Senhora Aparecida com a canção “Maria, Maria”.
Reflexão
Organizado pela Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial (Cepppir) e pela Secretaria de Cultura, com apoio da entidade Círculo Palmarino, o material de apoio teve passagens lembrando a opressão e as barreiras criadas aos afrobrasileiros mesmo depois da Abolição. E também um pedido para que todos busquem a lei de uma nova irmandade, em que escravos não virem no futuro novos senhores de escravos e que todos possam ser o que puderem ser.
A Missa Afro foi cocelebrada pelo padre João Estevam e o altar, em certo momento, teve a presença de pessoas de diversas religiões, além de citações aos nomes espirituais africanos. A cerimônia terminou após a bênção de dom Vicente com um cortejo da bela canção sobre os índios, os negros, os inconfidentes e o povo trabalhador celebrizada por Clara Nunes.
Participaram também seminaristas e um grupo de futuras noviças vindas do Congo. Entre as autoridades presentes estiveram o secretário da Cultura, Tércio Marinho, o assessor especial do Gabinete para Assuntos das Coordenadorias, Vanderlei Victorino, e a vereadora Marilena Negro.
Entre as leituras da missa, um trecho de Macabeus (parte do livro de referência dos cristãos, a Bíblia) foi lido pelo prefeito Pedro Bigardi. Outro trecho, do Evangelho, tratou da ocasião em que Jesus expulsou vendedores do templo. A soma da arquitetura da Catedral com o colorido do vestuário e das vozes marcou o evento no histórico Largo da Matriz.
José Arnaldo de Oliveira
Fotos: Dorival Pinheiro Filho
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