Blanca Rizzo: artista além da coreografia
Publicada em 25/03/2013 às 11:00Na intensidade dos gestos, a argentina Blanca Rizzo vai além da coreografia. A expressão corporal da artista leva ao público discussões profundas sobre temas que atingem mulheres, como tráfico de pessoas, estupro, aborto ilegal e outros.
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Para mergulhar nesse universo tão difícil e delicado, a coreógrafa que está em Jundiaí a convite da Companhia Na Ponta da Língua e vai ministrar oficinas na Pinacoteca, nos dias 25 e 26 de março, procura inspiração na literatura e em histórias reais. “São temas fortes. As histórias são tristes. Me preocupo com esses assuntos e por isso me envolvo na luta da mulher contra a violência e o capitalismo.”
De alma sensível, Blanca conta que é impossível conviver com um assunto tão pesado sem se afetar. “Às vezes, durante alguma leitura, fico com vontade de me afastar desse universo. Tenho que ir aos poucos, pois tenho duas filhas e penso muito nelas. É terrível pensar nas coisas que fazem com nós mulheres mundo afora.”
Para a coreógrafa, o mal desse século é o tráfico de pessoas. “São coisas horríveis, que não podemos crer. Em Buenos Aires, algumas jovens saem das festas durante a noite e são sequestradas. Homens param vans nas ruas, as puxam pelos cabelos e as levam para a prostituição.”
Por conta de casos assim, Blanca leva ao seu público informação. “Boa parte das mulheres não tem ideia de que isso existe. Nos espetáculos, deixo uma mensagem de alerta.”
A primeira performance ligada ao tema feita por Blanca foi apresentada na Faculdade de Advocacia de Buenos Aires, durante o Foro Interamericano de Mulheres Contra a Corrupção. Na ocasião, apresentou ‘Corpos à Venda’, espetáculo no qual se apresentava ao público semi-nua, com códigos de barra pelo corpo. “A intenção foi mostrar que as mulheres, em algumas situações, são tratadas como produtos.”
Ditadura
Blanca viveu os anos de chumbo da Ditadura Militar na Argentina, ocorrida entre 1976 e 1983. “Pouco antes de o regime começar, havia uma organização não governamental, que já agia no país. Na época, colocaram uma bomba em minha casa. Minha mãe foi parar no hospital após a explosão. Eu e meus irmãos estávamos em um cômodo que não foi atingido.”
Segundo ela, o que passou nesta época ainda está vivo na memória do povo argentino. “Todos os anos, o povo realiza passeata para lembrar seus mortos e tudo o que passou.”
A artista diz que apenas agora está passando por um processo de cura. “Estou me refazendo e por isso não quero mais que o centro das atenções seja o que foi a Ditadura. Quero que todos pensem na luz que brota nas pessoas no momento em que conseguem se curar do que passou.”
Após o difícil período, Blanca integrou o Movimento Under Portenho Pós Ditadura. ”Passamos a produzir arte, como forma de protesto, em espaços não oficiais.”
Rede Magdalena
Há um ano, a coreógrafa integra a Rede Magdalena – Segunda Generacion, formada na Argentina, por artistas do sexo feminino. “Temos um lado político muito forte e atuamos na defesa das mulheres.”
A primeira geração da Rede foi fundada há 15 anos, na Dinamarca, com o intuito de dar visibilidade ao trabalho das mulheres.
E a terceira geração é do Brasil, formada por jovens artistas e jornalistas de Jundiaí. Por enquanto, sete moças integram o time. “A responsabilidade é grande. Estamos falando em nome de uma geração de mulheres que há 25 anos luta pela arte”, comenta Luiza Bitencourt, atriz e diretora da Companhia Na Ponta da Língua, membro da terceira geração.
Luiza conta que aqui, a rede pretende atuar com foco no trabalho voluntário. “É uma busca de não só a arte como produto. Arte como forma de transformar a sociedade.”
Saiba mais informações sobre as oficinas de Blanca.
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