Os anos em que o Rock venceu no Brasil
Publicada em 21/06/2013 às 13:51Uma conversa com o jornalista e escritor Ricardo Alexandre pode ser uma oportunidade de ouro para entender melhor a geração musical que chacoalhou o Brasil nos anos 80. Período turbulento, de Diretas Já e do clamor popular pela democracia, a época destroçou os diques que represavam uma demanda jovem reprimida, há muito, por ousadia e atitude na cultura de massa. E essa pulsão veio em forma de rock, um fenômeno capaz de estabelecer uma conexão poderosa com o grande público.
Esse momento mágico é contado com propriedade pelo jundiaiense no livro “Dias de Luta, o Rock e o Brasil dos anos 80”, relançado 11 anos após sua primeira tiragem, de quatro mil exemplares, ter virado pó nas livrarias. “Dias de Luta começou a ser citado em trabalhos acadêmicos, serviu de referência para outras obras e eu era constantemente chamado pra falar dele, mas o livro não estava à venda”, conta Ricardo. A avis rara chegou a ser negociada por quase R$ 600 em sebos e pela internet. “Foi um motivo a mais para relançarmos. O conteúdo foi todo revisto e atualizado, tem novo projeto gráfico (alusivo aos games da época) e um recorte das 50 músicas que ajudam a definir o momento.“
Em tempo, o autor – e morador do bairro Eloy Chaves – trabalha na versão e-book da obra, que deve sair do forno nas próximas semanas. “Vai ter muito material extra, links para comprar as músicas, áudios raros de entrevistas com Renato Russo e Herbert Vianna, entre outras personagens que ajudaram a definir aquela época.”
Foi um período em que os jovens começaram a ter mais informação que os pais. Não à toa, o livro é aberto com uma citação de Oscar Wilde. “Hoje em dia, só tenho algum respeito pelas opiniões das pessoas muito mais novas do que eu.”
Dias de Luta
A ideia veio em 1996. Foram seis anos de muita pesquisa e entrevistas. “Todos os entrevistados falaram de suas histórias com muita honestidade e franqueza. O livro foi concebido num momento de refluxo desses artistas. Ainda não havia a efeméride sobre os revivals, como no caso de RPM e Blitz, então, eles puderam falar sem pressão alguma.”
Conversar com Ricardo Alexandre também possibilita jogar alguma luz no cenário roqueiro de Jundiaí no início dos anos 90. À época, membro da banda “Os Cleggs”, Ricardo fez parte do início de uma geração local que flertava com o rock alternativo. Dias em que as demo-tapes dos novos conjuntos circulavam a todo vapor pelo underground, geralmente com suas capinhas desenhadas à mão e com a inusitada frase “Conheça Jundiaí, a Seatlle brasileira”, uma brincadeira com a cidade-berço do grunge. “Era uma piada que ganhou matéria de página inteira na Folha de São Paulo. Ficou duplamente mais engraçada”, ri, sem deixar de explicar a face genuína daquela cena. “No geral, eram meninos mal articulados e que mal sabiam tocar, mas que fizeram o rock na cidade acontecer pra valer, criaram selo e tudo mais.”
De volta a Jundiaí desde 2004, o jornalista não abre mão de ficar com a família, com os filhos Lorena e Murilo, de 6 e 4 anos. De onde mora, tem vista privilegiada para a Serra do Japi e localização estratégica para outras cidades, onde vem lançando o livro. “Faço questão de morar em Jundiaí, lembrar sempre quem sou, de onde eu venho e onde estou”, sentencia.
Falando em interior, Ricardo tem outro projeto em andamento, batizado de “Um pra lá, um pra cá”, programa de rádio que ele deverá dividir com outro apresentador. “Serão duas personalidades, com duas trajetórias, de duas cidades diferentes, falando sobre música pop, lançando coisas e descobrindo raridades, abrindo suas coleções particulares e levando cultura à região”, adianta. A ideia é transmiti-lo em várias emissoras do interior. É esperar para ouvir. Mas não fica nisso.
O ganhador do Jabuti por “Nem vem que não tem”, biografia do cantor Wilson Simonal, já ataca diariamente o Word em seu novo livro, agora, falando sobre o rock brazuca dos anos 90. Ao todo, serão 50 capítulos. A novidade é que esse material, ao passo em que fica pronto, pode ser lido de antemão no blog de Ricardo, que publica em ritmo quase que diário.
Com tanto entendimento sobre o assunto, visualmente, Ricardo está longe de aparentar ser um roqueiro tradicional. De cabelos curtos, recebeu a reportagem com uma camisa de botão, bermuda e sandália. Mas tem um ás na manga: a inegável semelhança com Samuel Rosa, guitarrista e líder do Skank, que deverá estampar as páginas de seu próximo livro, “Cheguei bem a tempo de ver o palco desabar”.
Por Thiago Secco
Fotos: Alessandro Rosman
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