Prefeitura de Jundiaí

Regiane volta para a família graças a 1 milhão de amigos

Publicada em 30/04/2014 às 20:06

A música “Eu quero apenas”, de Roberto Carlos, é a trilha sonora perfeita para contar uma história que demorou 15 anos para ter um final feliz. Por meio da página da Prefeitura de Jundiaí no Facebook e do apoio de 1 milhão de pessoas que visualizaram a notícia, o “amor decidiu a vida” após sentir “a força da mão amiga”, como canta o Rei. Nem mesmo o Oceano Atlântico conseguiu separar uma família de Campo Limpo Paulista da jovem jundiaiense que mora na Itália e, finalmente, vai poder voltar para os braços da mãe.

Do lado brasileiro, a mãe e os irmãos não tinham notícias de Regiane Souza Santos desde quando a menina foi levada para adoção. Do lado italiano, hoje com 23 anos e moradora na província de Cremona, a jovem – mesmo distante da intimidade com a Língua Portuguesa – manteve próximo o laço afetivo com suas raízes. “Eu não falo nem escrevo mais em português. Comunico-me com vocês com o auxílio de um tradutor on-line”, revela.

VEJA O POST QUE REUNIU A FAMÍLIA

Assim, de modo improvisado, buscou auxílio no Facebook na tentativa de encontrar os parentes brasileiros. Foi no dia 20 de abril, apropriadamente um domingo de Páscoa, que sua mensagem de ajuda chegou à Prefeitura de Jundiaí. “Por anos eu procurei meus irmãos. Tentei encontrá-los por várias maneiras na internet, tentando lembrar os rostos, enviando mensagens privadas para muitas pessoas com o mesmo nome. Mas eu nunca os encontrei. Um dia, vi a página da Prefeitura e pensei que a única solução que eu tinha era através dali. Graças a isso os encontrei em menos de uma semana”, revela.

Em menos de uma semana, a publicação que buscava pela mãe Nelcida Aparecida Souza, pelo pai Benedito Teodoro dos Santos e pelos irmãos, foi compartilhada mais de 17 mil vezes, sendo visualizada pelo impressionante número de 1 milhão de pessoas numa corrente do bem que se alastrou por diversos Estados brasileiros, chegando em outros países como Portugal e Estados Unidos.

Muita gente começou a ajudar com pistas, lembranças, histórias diversas. Foram várias mensagens; algumas apontavam para uma mesma direção e foram responsáveis em jogar luz a um passado repleto de incertezas. “Eu tenho tantas memórias difusas da minha família, mas eles sempre foram muito presentes nas minhas lembranças. Eu pensei sobre eles todos os dias”, garante Regiane.

Algum tempo e milhares de compartilhamentos depois, o caso foi ganhando mais nitidez, sendo possível confirmar algumas informações. A família de Regiane ainda está em Campo Limpo Paulista, na região do Jardim Laura. O pai Benedito faleceu em 1996. E mais: além de Regiane, outros dois irmãos, nascidos em Campo Limpo Paulista e com história similar, vivem com a moça na Itália. São eles: Shirley Souza Santos e Anderson Aparecido Souza Santos.

Reencontro
Em 26 de abril, Regiane já falava com o irmão Robson pela linha do tempo do Facebook. Nesse meio tempo, inúmeras trocas de fotos, vídeos e mensagens cheias de nostalgia estampam os perfis. Afinal, são histórias de uma vida inteira para serem passadas a limpo. “Em uma das mensagens trocadas, Regiane pediu para que eu não morresse antes da gente se conhecer pessoalmente”, conta dona Nelcida, em lágrimas.

“A gente não estava acreditando quando a encontramos pela internet. Toda a família foi às lágrimas. Foi o melhor presente que eu poderia ganhar no meu aniversário, que será em maio”, ressalta a mãe.

A família brasileira
Nascida na cidade de Arapoti, no Paraná, a faxineira e matriarca da família, Nelcida Aparecida Souza, hoje com 45 anos, conta que sempre trabalhou duro.

Mãe de cinco filhos, tem convivência próxima com dois: Robson Souza Santos, 26 anos, e Renata Odila Souza Santos, 27 anos, ambos ajudantes de produção em uma pequena empresa do ramo de alimentação em Campo Limpo Paulista. “Nunca um filho meu passou fome. Sou pobre e tenho condições humildes, mas eles nunca foram destratados”, diz.

Nelcida conta que os três filhos foram levados à adoção após uma decisão da Justiça. A alegação, segundo a mãe, teria sido “abandono de incapaz”. “Eu me senti pressionada a assinar o documento que me fazia abrir mão dos filhos”, ressalta. De Campo Limpo, ela acredita que as crianças tenham sido levadas a um orfanato no bairro do Anhangabaú, em Jundaí.

“Depois disso nunca ninguém deu pista nenhuma para a gente. Eu mesmo já escrevi para tudo quanto é programa de televisão para tentar localizá-los, mas nunca tive retorno”, conta a irmã Renata, visivelmente parecida com Regiane.

Vida nova
Regiane revela que está deixando a Itália. Em companhia do namorado, parte agora para um recomeço em Londres. Além da casa nova, essa cidadã do mundo abre o coração e não esconde: está feliz. E em paz com sua história. “Eu agradeço a todos aqueles que me ajudaram na internet. Eu quero muito que todos saibam que sem vocês eu nunca teria conseguido. Obrigado amigos do Facebook! Obrigado pelo calor que vocês me enviaram.”

Em breve, revela, pensa em voltar ao Brasil e rever a família, reencontrar sua história e fechar o capítulo mais importante da vida.

Assim, coincidentemente, já dizia a canção:

“Venha comigo olhar os campos
Cante comigo também meu canto
Eu só não quero cantar sozinho
Eu quero um coro de passarinhos
Quero levar o meu canto amigo
A qualquer amigo que precisar
Eu quero ter um milhão de amigos
E bem mais forte poder cantar”

Thiago Secco
Fotos: Paulo Grégio