Estudo mostra que Serra abrigaria até 2 mil macacos Sauá
Publicada em 06/03/2015 às 17:05Duas pesquisadoras de biologia dedicadas ao estudo do macaco Sauá (Callicebus nigrifons) estimam que apenas em Jundiaí possam existir até 2 mil exemplares dessa espécie de primatas conhecidos pela comunicação num formato parecido com o assobio.
A estimativa foi feita a pedido da Prefeitura de Jundiaí pelas pesquisadoras Carla Gestich e Christini Caselli, que já publicaram diversos artigos internacionais sobre as análises, feitas principalmente na Reserva Biológica Municipal (Rebio). Ambas trabalharam entre 2006 e 2009 com um casal da espécie e, depois, entre 2008 e 2011 com um grupo com até seis indivíduos. Nos dois casos foi necessário habituá-los com essa presença. “O processo foi necessário para que eles aceitassem que nós os acompanhássemos sem que o comportamento fosse alterado”, lembrou Carla.
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Em outras palavras, as pesquisadoras acompanhavam os animais desde o momento em que deixavam a árvore-de-dormir (ao amanhecer), ou eram encontrados, até retornarem à mesma árvore, ou serem perdidos. Geralmente era preciso entrar na mata antes do sol nascer para aguardar o horário de saída das árvores-de-dormir e garantir mais um dia de trabalho.
O cálculo leva em conta a presença em toda a extensão da serra e a constatação de que um grupo de seis indivíduos pode usar uma área equivalente a 280 mil m² – resultando em uma densidade de 21 indivíduos por quilômetro quadrado.
Quintal invisível
Um dos motivos da estimativa populacional é de que os Sauás são seres bastante territoriais, buscando o que pode ser chamado de área de vida. Eles se organizam socialmente em grupos familiares, formados por um casal e até quatro filhotes. Possuem áreas de vida bem definida, que são defendidas de forma muita ativa quando contam com recursos valiosos como árvores frutíferas.
A vocalização é o principal meio de anunciar a presença e posse das áreas, mas em encontros com grupos vizinhos pode haver ameaças de corpo arqueado e pelos eriçados, além de perseguições e brigas (estas, como último recurso).
Eles também possuem até cenas de brincadeira com outros primatas da serra como o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita), mas também há casos de expulsão de saguis e até de aves como os jacus das árvores em que se alimentam. Não houve registro de conflitos com bugios, mesmo porque essa espécie é mais rara na Serra do Japi e mais comum nas áreas rurais do outro lado da mancha urbana de Jundiaí.
Os Sauás são bastante comunicativos, utilizando vocalizações mais discretas e baixas (dentre elas os assobios). A observação do uso no comportamento, aspecto chamado de etologia, pode ser comparada com o aprendizado de um idioma desconhecido.
Destruição limitada
O motivo dos Sauás viverem na área da Serra do Japi e estarem menos presentes em outras regiões é a necessidade dos ambientes florestais. “Mas também são vistos em fragmentos florestais bastante alterados, embora não saibamos o grau de antropização que limitaria a ocorrência”, observam Carla e Christini.
Um dos motivos é que são realmente tímidos e ariscos, evitando sempre que possível o encontro com seres humanos. Outro é que ambientes alterados podem expor condições como temperaturas mais altas ou ventos mais fortes, além da vulnerabilidade a predadores e caçadores.
Mas o maior motivo da inexistência de sauás em ambientes muito alterados é a falta de recursos para sobrevivência, como alimentos e árvores adequadas para uso como dormitório.
Os macacos Sauás formam apenas uma das centenas de espécies de animais e vegetais existentes na Serra do Japi, como um refúgio de mata atlântica no Estado de São Paulo – considerado de alta prioridade nos levantamentos estaduais e federais de meio ambiente.
José Arnaldo de Oliveira
Foto: Divulgação
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