Parklet do Centro ganha ‘soltura literária’ de escritora
Publicada em 27/07/2015 às 16:36De passagem recente por Jundiaí, a escritora Eliane Ratier deparou-se com uma matéria no jornal que chamou a atenção. O texto falava de um recém-criado espaço de convivência entre as pessoas em pleno Centro da cidade. E mais, o lugar havia tomado duas vagas de automóvel na rua do Rosário, conhecida pela tradicional agitação do vai e vem no trânsito.
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“Como assim? De cara, pensei: que ideia legal essa de resgatar o contato olho no olho das pessoas, de abrir a possibilidade para que se veja o que está em nossa volta, de privilegiar as pessoas e não os carros”, descreve a jundiaiense, radicada há 35 anos em Ribeirão Preto, onde foi estudar odontologia e acabou ficando.
Não teve dúvida. No dia seguinte, reuniu alguns livros na bolsa – um de sua autoria – e os levou durante sua primeira visita ao parklet. Um bilhete afixado na capa de cada um deles atraía os olhares mais curiosos. “Procuro um leitor.”
“Esse é um trabalho que eu abraço, que é minha segunda atividade, a de escritora. Do que adianta a gente escrever se não temos leitores? O que eu faço é facilitar o acesso à leitura, não apenas dos meus livros, mas de tudo que eu ganho”, conta Eliane, que batizou o gesto de Livro Livre, realizando solturas literárias parecidas às de animais silvestres devolvidos ao bioma de origem.
O gesto conferiu ao parklet um romance, um livro de poesia e outro sobre a fauna brasileira. A ideia é a de que os livros sejam levados, lidos e passados adiante, devolvidos ao parklet ou não.
“No mundo todo existem os Crossbookings, com títulos que percorrem milhares de quilômetros numa viagem sem rumo. Aqui, eu faço a minha parte, à minha maneira. Por que eu vou deixá-los na minha estante? Eles não me servem mais, mas vão tocar o coração de alguém. O parklet é um espaço ideal para a circulação dessa informação”, anotou.
Acompanhada da mãe, Nair, para uma segunda soltura literária no ato da entrevista, levantou a bandeira de que “as pessoas do bem tem que ocupar os espaços públicos. Do contrário, a cidade fica abandonada”. Há 15 anos morando no Centro, dona Nair aprovou a novidade. “Quando eu vi pela primeira vez não entendi direito o que era. E não é que ficou ótimo?! Agora eu venho aqui conversar e ver a movimentação”, assumiu.
E durante o papo, era comum alguém parar para folear um livro, uma revista ou mesmo sentar e respirar mais pausadamente por alguns momentos. Aproximadamente 15 pessoas fizeram uso do parklet durante a meia hora do encontro.
Com dois livros de poesia no currículo, Eliane conta que a frequência de suas vindas a Jundiaí aumentou depois de se aposentar pela rede pública de ensino de Ribeirão, onde atuou como dentista. Na agenda, ela também divide tempo com a Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto e a União Brasileira de Escritores.
Thiago Secco
Fotos: Fotógrafos PMJ
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