Especial: Gestos da GM em prol da inclusão
Publicada em 11/10/2013 às 18:17Segundo o censo do IBGE de 2010, estima-se que existam mais de 18 mil pessoas com algum tipo de deficiência auditiva em Jundiaí. A dona de casa Irene de Fátima Mantovani, 51 anos, faz parte desse universo. Enquanto ainda estava no ventre, a mãe sofreu de rubéola, quadro que fez com que ela já nascesse surda. História similar tem o diretor pedagógico e professor Milton Romero Filho, de 38 anos. Ele nasceu ouvinte, mas, logo com 1 ano de idade, foi diagnosticado com meningite. A doença levou-lhe a escuta.
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Irene, Milton e a Guarda Municipal Feminina Melo se encontraram durante essa semana, na sede da GM, para um bate-papo descontraído, que tomou quase toda a manhã de quarta-feira (9). Os três gesticulavam com rapidez e trocavam sorrisos; conversavam pelo método de Língua Brasileira de Sinais (Libras) com desenvoltura evidente.
Há 2 anos na corporação, a GMF Melo fala e ouve normalmente. Ela foi um dos 20 oficiais que participaram, de 11 a 21 de junho, de um treinamento ocorrido na própria GM, onde teve a oportunidade de aprender a Língua de Sinais. “Logo de cara, nas manifestações de junho, precisei colocar o aprendizado em prática. No meio dos manifestantes que se aglomeravam em frente ao Paço Municipal, um rapaz surdo estava receoso com eventuais atos de vandalismo. Com calma, disse a ele que a GM estava lá para ajudar e proteger as pessoas. Ele ficou mais tranquilo ao ver que eu o entendia”, lembra Melo.
Fora da Guarda, Andrea Aparecida Melo é casada com outro guarda, o GM Pontes, também praticante da linguagem de libras. A ex-artesã diz, em alto e bom tom, que sente-se realizada pelo trabalho que desenvolve na corporação. “O objetivo é de que todo efetivo tenha esse conhecimento. Isso é um meio importante de inclusão, de atender os surdos da mesma maneira que qualquer pessoa”.
Clube dos SurdosIrene e Milton fazem parte do Clube dos Surdos, entidade sem fins lucrativos, situada no Centro, que reúne mais de 100 pessoas entre ouvintes e não-ouvintes. O objetivo é prestar assistência aos surdos e ensinar os não-surdos a Língua dos Sinais. “Toda sexta nos reunimos para conversar e praticar em Libras”, conta Milton, por meio dos sinais.
“Achei incrível a atitude da guarda em se aproximar do Clube, aprender e trocar experiências com a gente. Isso mostra a preocupação em estender o atendimento a todos, sem distinção”, diz Irene, que também é vice-diretora da Comunidade Surda da Paróquia São Vicente, no Retiro. Ela gesticula e muda o semblante para contar quando teve o telefone celular furtado. Ela precisou chamar a filha, que tornou-se intérprete, já que o policial militar não conseguia entendê-la.
Na própria família
O GM Porto já tinha algum conhecimento sobre Libras. A filha dele, Vitória, hoje uma jovem de 14 anos, é surda, resultado de um problema congênito. “Após o curso, aprofundei meus conhecimentos e tive a oportunidade de praticar essa inclusão dentro da minha própria família”.
Na GM de Jundiaí há 5 anos, ele senta-se em frente ao computador e abre a Internet. Comunica-se com Vitória, que mora em São Paulo, por meio de vídeos que são trocados pelo Facebook. O último, enviado pela garota, revela uma adolescente preocupada com a não interação entre a comunidade surda e a comunidade não surda. “Minha filha tornou-se uma grande entusiasta de Libras e quer divulgar essa ferramenta para o maior número de pessoas”, revela o pai, orgulhoso. “O universo dos surdos é muito amplo e não dá mais para fazer de conta que eles não existem”.
Mais inclusão
O subinspetor Dênis, responsável pelo setor de cursos e formação dos agentes, explica que o principal objetivo da Guarda Municipal é aprimorar, cada vez mais, o trabalho comunitário e preventivo. Para isso, “é imprescindível atingir a todos, indistintamente. Isso envolve o conhecimento de outros idiomas, técnicas para o atendimento de cadeirantes, e muitas outras coisas. A Guarda está atenta a essas demandas”.
Dênis também conta que a instituição já estuda, para 2014, a implementação de um sistema especial para atendimento de surdos. Uma das ferramentas que vem sendo analisadas de perto é a “Viável Brasil”, que possibilita abrir chamadas e ocorrências por meio de vídeo conferência, democratizando ainda mais o atendimento.
Thiago Secco
Fotos: Cleber de Almeida
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