Dia Internacional do Circo: Sob a lona da arte

Publicada em 13/03/2014 às 19:07

Com o olhar fixo no espelho de um velho retrovisor de carro posto sobre a mesa, Marlom Miranda, de 27 anos, engraçado por natureza, foi dando cor e textura ao palhaço Pankeka, uma das atrações do circo Stankowich, montado há uma semana na cidade.

Marlom nasceu no meio circense e não conhece outra vida que não essa: o dia a dia da estrada, o espírito nômade e a sensação de liberdade encontrada em cada partida. Nascido em Bauru (SP), ele pouco conhece a cidade. “Fui apenas uma vez lá, e com o circo”, conta, enquanto vai pintando sua boca de tinta azul. O artista teve de fazer malabarismo para terminar o 2º grau do ensino médio. “As escolas são obrigadas por força de lei a abrigar crianças e jovens do circo durante a presença na cidade.” Ele não faz ideia de quantas escolas passou.

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Marlom Miranda dá vida ao palhaço Pankeka

Marlom Miranda dá vida ao palhaço Pankeka

No picadeiro, durante as duas horas de espetáculo, se apresenta três vezes. Uma delas ao lado do pai, Athos, de 71 anos, mais conhecido no meio como o palhaço Chumbrega. Uma arte centenária, passada de pai para filho. Perguntado como atrair a atenção da criançada no mundo tecnológico e repleto de efeitos visuais de hoje, Chumbrega se vale do humor inocente e infantil como valia. “Optamos por um show pastelão, sem uso de piadas de segunda intenção. É um show para toda a família”, garante o palhaço, há 6 anos nas fileiras do Stankowich e fabricante da pintura facial usada por ele e pelo filho, à base de vaselina e óxido de zinco.

Ao lado, à frente de um pequeno trailer de 7,5 metros de comprimento, estava Juliana, de 26 anos, ex-auditora fiscal de um hospital em Curitiba (PR). Um fim de semana, o circo chegou e Juliana se apaixonou por Pankeka durante o número da xícara. Depois, transferiu a paixão por Marlom. Largou tudo e caiu na estrada. Já estão juntos há 3 anos. Hoje, Juliana faz parte do bailado da atração e divide o tempo com a arrumação da casa sobre rodas, que tem quarto, berço, banheiro, uma pequena cozinha e uma mesa. O traileir ainda tem uma antena externa de TV a cabo e internet. A família de Marlom é uma entre as outras 30, acampadas por ali. São cerca de 100 pessoas vivendo sob a lona da arte.

O circo
O proprietário Marlom Stankowich, de 50 anos, conta que a tradição começou quando a família chegou ao Brasil. “Vieram de navio, junto com animais, para fugirem da guerra”, diz. Polonês de origem, Constantino passou o cedro ao filho Antônio que legou a Marlom. São mais de 150 anos de atividade. “É o circo mais antigo do Brasil e o terceiro mais antigo do mundo”, garante o dono.

Stankowich: mais de 150 anos de tradição

Stankowich: mais de 150 anos de tradição

A estrutura impressiona: são 10 caminhões, 20 carretas e duas grandes lonas que abrigam a entrada, os 1.500 lugares e o picadeiro, numa área montada de 4 mil m². O show, de duas horas de duração, conta com a apresentação de 40 artistas em 20 atrações.

Natural de São Paulo, Marlom Stankowich conta que o circo continua sendo um bom negócio, atraindo um bom público para as noites de espetáculo. Sem o circo, ele se define como “um cantor que tem de parar de cantar”. “Não sei fazer outra coisa”, diz.

Na família, assiste a própria filha, Natália, todas as noites, como a mulher da força capilar. “Ela se dependura apenas com a força do cabelo.”

A atração fica em Jundiaí até o próximo dia 23, sempre de terça a domingo. De terça a sexta, o espetáculo é às 20h30, e sábados, domingos e feriados em três horários: 16h, 18h e 20h30. Os ingressos variam de R$ 15 a R$ 40.

Dia Internacional do Circo
Neste sábado (15), comemora-se o Dia Internacional do Circo. A data é uma homenagem ao palhaço negro Benjamin de Oliveira, que veio da Europa para o Brasil um circo europeu em plena época da escravidão. O palhaço, já alforriado, enquanto tomava um café no bairro da Cinelândia, em São Paulo, foi confundido com um escravo e preso. Indignados com a situação, alguns artistas começaram uma manifestação a favor do artista. Depois do episódio, o bar ficou conhecido como Café dos Artistas.

O Museu Histórico e Cultural – Solar do Barão presta sua homenagem aos artistas e ao movimento circense com uma apresentação da Cia. Rick Kelly, neste sábado (15), às 10h30, no Calçadão da rua Barão de Jundiaí, em frente ao museu.

Thiago Secco
Fotos: Dorival Pinheiro Filho


Link original: https://jundiai.sp.gov.br/noticias/2014/03/13/dia-internacional-do-circo-sob-a-lona-da-arte/
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