Trançando Arte é manifesto contra a ‘opressão estética’
Publicada em 15/06/2015 às 13:00O encontro de cabelos que marcou, no domingo (14), o evento promovido pela Prefeitura de Jundiaí no Parque Comendador Antonio Carbonari, o Parque da Uva, era mais do que um encontro de tranças, que fazem parte da cultura afrobrasileira. Em sua terceira edição desde 2013, era também um encontro de diversos tipos de penteados e de acessórios usados em um tipo de beleza que pouco aparece na televisão ou nas revistas, mas faz parte do universo da cultura negra.
“Precisamos ter uma postura de respeito a essa história”, afirmou o prefeito Pedro Bigardi ao visitar o evento com a primeira-dama e presidente do Fundo Social de Solidariedade, Margarete Geraldo Bigardi, que completou o raciocínio lembrando que a busca nos mais diversos setores é por uma cidade mais humanizada.
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Mais de 240 trançadeiras e perto de 40 expositores participaram do encontro com grande variedade de produtos, que incluíram até mesmo as bonecas negras para crianças da arte educadora paulistana Lúcia Makena, que avançou com uma proposta já testada antes na cidade. Titular da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial, Valéria Fonseca, afirma que o mérito do governo é reconhecer que a questão estética é parte de uma luta cultural que segue apesar de avanços recentes.
“Em Campinas, estamos usando esse tema dentro de um projeto voltado às crianças e adolescentes, que não se reconhecem nos padrões de beleza usados na mídia”, explica a pedagoga Yanê Santanna Batista.
Entre as atrações musicais, os talentos locais do grupo 288 ou do DJ Piggy dividiram a atenção com o lendário Sambalanço, intercalados por passinhos ou toques de break entre o público. Para o secretário de Cultura, Tércio Marinho, a imposição do alisamento de cabelos nas últimas duas décadas refletia uma agressão à identidade e à cultura da população negra. “Esse evento ajuda não apenas esse grupo a refletir, mas toda a sociedade”, afirmou.
Uma grande variedade de pessoas, inclusive famílias de pele clara com cabelos lisos, passou pelo parque para apresentar a diversidade cultural às crianças e jovens. O evento anual atrai pessoas de todo o Estado de São Paulo e, obviamente, de diversos bairros de Jundiaí. Circulando pelo pavilhão com tranças coloridas, Camila Brenda se identificava como “modelo de cabelo” do salão Pérola Negra, da Agapeama.
Do ouvidor municipal Eginaldo Honório a integrantes de gabinete da deputada estadual Leci Brandão, muitos passaram pelo evento para reforçar uma espécie de mensagem atualizada do clássico “black is beatiful”, da década de 1980. Havia até roqueiros com suas famílias lembrando das primeiras experiências conjuntas com grupos de rap há duas décadas, ainda dentro de festivais de cidadania como o Pão & Poesia ou em clubes como o 28 de Setembro.
Mas não havia mensagem mais poderosa no evento do que a variedade de tranças e de cabelos que desfilaram pelo parque durante o dia. No público ou nos desfiles do palco, apresentados por Vanderlei Victorino (B.A.), com modelos de todas as idades que levaram com orgulho um cenário de salões e tradições que existe espalhado por Jundiaí e por outras cidades. “Foi um evento cultural, bem organizado e importante para toda a comunidade”, resumiu a estudante de administração Jéssica Tamires, que prestigiou o encontro com a mãe Sílvia Almeida.
José Arnaldo de Oliveira
Fotos: Dorival Pinheiro Filho
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