Planta da Serra do Japi motiva estudo inédito de disputa animal
Publicada em 29/01/2016 às 15:45Um arbusto de margens de florestas com presença em diversos pontos da Serra do Japi, com nome científico de Trichogoniopsis adenantha, é o tema de pesquisa do biólogo Luiz Rezende, que vai usar instrumentos fora do local original (“ex situ”) por um motivo bastante curioso. Essa planta tem como visitante floral conhecido as borboletas do tipo Ithomiinae, mas ao mesmo tempo é apreciada por insetos mastigadores de folhas e flores, como gafanhotos ou lagartas de mariposa e sugadores de seiva e conteúdo celular como afídeos ou miríados e ainda por espécies de mosca que usam as inflorescências (flores) para o desenvolvimento de suas larvas.
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Embora a pesquisa tenha a finalidade de aprofundar o conhecimento científico sobre esse tema, com todos os esforços e exigências que o trabalho exige, o assunto acaba tendo interesse mais amplo porque envolve uma das formas de sobrevivência de algumas borboletas reconhecidas entre as mais “bonitas” ao observador comum entre as 650 espécies identificadas na Serra do Japi.
Rezende é vinculado ao programa de pós-graduação em ecologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), um dos mais importantes centros desse tipo no país e epicentro do essencial livro ‘História Natural da Serra do Japi’, publicado em 1992 e referência na conservação da Serra protegida pelas ações de governo local e pelas passeatas populares que reivindicaram o seu tombamento, alcançado em 1983. Seus orientadores são Martin Pareja e Gustavo Romero.
O trabalho de campo será na Reserva Biológica Municipal da Serra do Japi, mantida pela Prefeitura de Jundiaí.
Tecnologias
O trabalho, apresentado a um grupo de monitores da serra e técnicos da Prefeitura de Jundiaí em um encontro na Base Ecológica Miguel Castarde (que também abriga a sede da Fundação Serra do Japi), envolve, além dos levantamentos de campo, uma etapa incomum a ser desenvolvida na Unicamp.
CONFIRA O TRABALHO APRESENTADO
Nessa etapa, serão coletadas mudas desse arbusto que serão cultivadas na chamada “casa de vegetação” do Instituto de Biologia. Também serão tratadas com a presença de insetos herbívoros e de polinizadores e, em estágio ainda mais avançado, serão coletados os voláteis (compostos orgânicos emitidos pelas plantas com diversas funções e com sintoma mais próximo das pessoas no conhecido cheiro de mato).
Em resumo, o estudo e o experimento visam nos próximos dois anos analisar em conjunto os fenômenos da herbivoria e da polinização, interações ecológicas (entre animais e plantas) que por muito tempo foram estudadas isoladamente mas podem ocorrer simultaneamente na mesma planta. Uma das hipóteses é de que o dano por herbívoros pode, por exemplo, alterar o número e tamanho das flores ou inflorescências que a planta produzirá e a qualidade e quantidade de néctar e pólen, além de alterar padrões químicos do aroma que liberam para atrair polinizadores.
As referências anteriores citadas no trabalho são os estudos de padrões de insetos endófagos associados à planta feitos por A. M. Almeida (1997), a fenomenologia de florescimento da planta com interação de artrópodes, por Gustavo Romero e João Vasconcelos Neto (2005 e 2012), o mais recente publicado no livro Novos Olhares, Novos Saberes Sobre a Serra do Japi (CRV).
O projeto é financiado por bolsa de mestrado do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A expectativa do projeto é de gerar informações relevantes não apenas sobre a ecologia da planta Trichogoniopsis adenantha mas também estimule outros estudos sobre interações complexas de outras comunidades biológicas e sistemas naturais.
José Arnaldo de Oliveira
Fotos: Reprodução
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