Operação no Complexo Fepasa busca ‘salvaguarda histórica’
Publicada em 20/10/2016 às 17:40Telhas francesas do final do século 19 estão sendo resgatadas na cobertura de parte das antigas oficinas da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, ao lado de outros materiais. É um trabalho de risco, efetuado com equipamento de plataforma pantográfica, e é parte da intervenção de salvaguarda, termo técnico usado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para orientar as prioridades nesse conjunto que está na lista do patrimônio brasileiro.
“As negociações de contrapartida com o empreendimento que está realizando o investimento e com o próprio Iphan sobre o desenho da prioridade estão em andamento desde o ano passado. E isso representa o início do Plano de Ocupação das Oficinas da Companhia Paulista”, afirmou a secretária de Planejamento e Meio Ambiente, Daniela da Camara Sutti.
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Para o especialista em restauro Antonio Sarasá, que já atuou em Jundiaí com o internacionalmente premiado projeto de zeladoria da Ponte Torta, a orientação do Iphan faz sentido porque a memória da comunidade não depende apenas das pessoas.
“Existe a materialidade em coisas como essas”, diz ao mostrar uma das telhas com a marca da olaria Arnaud Etienne e a indicação de Marselha, na França, provavelmente da década de 1890. Na enorme cobertura, muitas foram perdidas, mas um grande número permanece inteiro – em alguns casos penduradas de forma precária.
Apesar do alto risco da operação prevista até dezembro, que também abrange a troca de calhas ou de peças de uma área administrativa vizinha que está sofrendo infiltrações nas paredes (ambas com tamanho próximo de dois mil metros quadrados), ele pretende aproveitar o interesse já apontado por alguns ferroviários aposentados em redes sociais, diante do anúncio das intervenções, para uma posterior identificação de peças presentes no local depois de controlado o risco de desabamento ou queda de telhado.
“Conseguimos transferir a locomotiva número 1 para outra área mais protegida e estamos tentando fazer o mesmo com outras, deixando encaminhadas para restauro posterior. Nossa visão é de um grande espaço cultural”, afirma o secretário de Cultura, Jean Camoleze.
As intervenções em andamento seguem o grau de maior risco do diagnóstico feito em todo o grande Complexo Fepasa, chamado no foco da zeladoria como “patologias” – como infiltração, rupturas, invasões de fungos e animais, deterioração de materiais construtivos ou vandalismos, entre outros.
O trabalho técnico recebeu também a visita do diretor do Museu da Companhia Paulista, Sebastião Nereu da Veiga; do diretor do Museu Histórico e Cultural de Jundiaí, Edgar Borges Júnior; e do coordenador de projetos especiais da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente, Décio Luiz Pinheiro Pradela.
Eletrificação dos trens
Neste sábado (22), um evento no Museu da Companhia Paulista marca os 95 anos do primeiro trecho eletrificado da instituição, em 1921. Vai contar com palestra às 10h do pesquisador e historiador Rafael Prudente Corrêa (autor do livro “Locomotivas Elétricas da Companhia Paulista de Estradas de Ferro”), seguida de mesa de autógrafos na Sala dos Relógios. Em seguida, às 12h, ocorre uma visita guiada ao acervo permanente do museu. Interessados em certificado de presença podem se inscrever pelo e-mail museuciapaulista@jundiai.sp.gov.br.
Ponte Torta na FAU- USP
Também de Jundiaí, o projeto de conservação e zeladoria da Ponte Torta foi um dos assuntos de evento também nesta quinta-feira (20) na pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, com sede na rua Maranhão, em São Paulo. Ao lado do restauro da sede estadual do Instituto de Arquitetos do Brasil, foi um dos dois casos escolhidos pelo grupo de pesquisa “Memória, Patrimônio e Universidade”, coordenado pelo professor Júlio Ribeiro Katinsky, por terem sido projetos premiados nesse tema.
José Arnaldo de Oliveira
Fotos: Alessandro Rosman
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