Especial: A arte de Jundiaí feita à mão

Publicada em 18/10/2013 às 14:00

É num pequeno espaço improvisado na casa, sob uma escada em espiral, que Sebastiana Helena Ramos, 59 anos, encontra entusiasmo para dar vazão à arte. De lá saem peças que saltam aos olhos pela beleza puramente manual: bordados clássicos, crochês, guardanapos estilizados, fuxico (pequenas florzinhas feitas de tecido franzido) e bonequinhas de pano, de todos os tamanhos, cores e penteados.

Mais
Álbum de fotos do artesanato e da Fazenda Ribeirão
Feira do Artesanato de volta à Praça do Fórum

Prefeitura inaugura área de lazer no Almerinda Chaves

Artesã há 15 anos, Sebastiana conta que sempre gostou de fazer crochê, desde muito nova, como uma maneira de preencher a inquietude. “Procuro sempre algo para fazer, não consigo ficar parada”, conta, enquanto passa um pedaço de tecido na remota máquina de costura Singer, companheira fiel de trabalho.

Flávio Leone herdou do avô a arte dos brinquedos de madeira

Flávio Leone herdou do avô a arte dos brinquedos de madeira

Casada há 33 anos e mãe de duas filhas, Sebastiana diz que o carro-chefe da produção são as bonecas de pano. Chega a fazer de 20 a 30 todos os meses. “No fim do ano, esse número chega a 60.” As pequenas custam de R$ 10 a R$ 80, dependendo da sofisticação e do tempo desprendido para fazê-las. Em média, cada uma toma de 4 a 5 horas para ganhar vida. “Antes eu achava que nunca poderia ganhar dinheiro com isso.”

Entre os dias 13 e 22 de setembro, Sebastiana mostrou um pouco dessa arte no Festival Revelando São Paulo, um esforço do Governo do Estado em manter e difundir a diversidade cultural do interior paulista. No 17º ano, a edição ocorreu por 10 dias no Parque do Trote, Vila Guilherme, na capital, reunindo culinária típica, folia de reis, danças folclóricas, música e artesanato, numa grande colcha de retalhos cultural que reuniu mais de 200 cidades. Levando a bandeira de Jundiaí, dois artesãos – Sebastiana um deles. “Foi a quinta vez que participei”, contabiliza a veterana.

Moradora do Jardim Caçula, ela faz parte de um grupo de aproximadamente 200 artesãos da cidade. Todos eles recadastrados pela Prefeitura neste ano, dentro do programa “Jundiaí Feito à Mão”, da Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Turismo. A iniciativa começou em março, com a meta de ampliar espaços para esses artistas locais divulgarem e venderem os produtos, gerando renda e valorizando o trabalho artesanal da cidade.

Sebastiana e máquina de costura: fiel companheira de trabalho

Sebastiana e máquina de costura: fiel companheira de trabalho

“Esse ano eu fiz a Festa da Uva, estive lá todos os dias. As vendas foram muito boas, melhorou muito o movimento depois que a Festa foi repensada para a família e para os produtores locais.”

Herança do avô
Junto de Sebastiana no Revelando São Paulo estava Flávio Antônio Leone e seus brinquedos tradicionais. Flávio tem na memória a técnica para a feitura de mais de 200 modelos, conhecimento passado pelo avô, Antônio, ferroviário da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Essa tradição, deixada pela oralidade, foi um dos fiéis da balança para que Flávio fosse escolhido para o Revelando São Paulo.

“Outra exigência dos organizadores é que o artesanato carregue nas peças a identidade da cidade de origem”, explica. “Meu avô fazia presépios, presentes e outras peças, tudo de modo muito simples. Ainda criança, me interessei por essa arte. Na adolescência, o primeiro dinheiro que ganhei foi com a venda das minhas primeiras peças.”

Flávio, que divide o tempo de artesão com o trabalho de técnico agrícola e paisagista, foi construindo uma freguesia fiel com o tempo. Hoje, confecciona os brinquedos inspirado pela paisagem exuberante da Fazenda Ribeirão, bem ao pé da Serra do Japi – onde fica o ateliê.

Flávio: são mais de 200 brinquedos, todos à moda antiga

Flávio: são mais de 200 brinquedos, todos à moda antiga

Entre um bolinho de chuva e uma golada de café, ele mostra um pequeno brinquedo de madeira que guarda o princípio básico da carpintaria, sem uso de prego ou de parafusos.

“Era exatamente esse modelo que o pessoal da Paulista usava para erguer os galpões ferroviários. Ainda hoje, em alguns lugares do interior, é possível encontrá-los.”

Flávio também está cadastrado no programa Jundiaí Feito à Mão, do qual fala com entusiasmo. “A coisa mudou da água para o vinho. Nosso trabalho hoje é valorizado, temos oportunidade de expor e comercializar nossas peças. Tem sido um bom complemento financeiro”, conta. O artista também marcou presença na Festa da Uva e, mais recentemente, esteve no Paço Municipal durante a semana da criança, que reuniu artesãos de peças infantis.

Ao som da natureza e caminhando por entre a horta que fica nos fundos do ateliê, Flávio se empolga em dizer que também levou duas mudas ao Festival, uma de grumixama e outra de Cabreúva, cedidas pelo Jardim Botânico. “Com isso, contribuímos com outro programa do Estado, o Verdejando São Paulo.”

Thiago Secco
Foto: Paulo Grégio


Link original: https://jundiai.sp.gov.br/noticias/2013/10/18/especial-a-arte-de-jundiai-feita-a-mao/

Galeria

Baixe as fotos desta notícia na resolução original