‘Escadão’ é alvo de plano de manejo ambiental
Publicada em 16/06/2015 às 15:59A Prefeitura de Jundiaí está promovendo uma análise detalhada das medidas paisagísticas a ser adotadas junto ao inédito projeto de revitalização da Esplanada do Monte Castelo (Escadão), que envolve a cooperação técnica entre a Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente e o Jardim Botânico, ligado à Secretaria de Serviços Públicos.
O Plano de Manejo, com foco na vegetação, envolve a substituição de algumas árvores exóticas por espécies nativas visando ao enriquecimento do ambiente através do aumento da diversidade de espécies, e deverá também servir para programas de educação ambiental e para favorecer a manutenção das espécies de aves encontradas no local e entorno, além de atrair outras.
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O projeto, em conceito de parque urbano, será implantado no trecho parcial de 3,3 mil metros quadrados da esplanada próximo à Câmara Municipal, Pinacoteca Municipal e Escola Estadual Antenor Soares Gandra, sendo contrapartida de empreendimento dentro do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV).
Entre outras questões relevantes, será referência de acessibilidade com rampas de até sete graus de inclinação, respeitando as normas atuais e permitindo acesso ao Centro por pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida a partir do vale do rio Guapeva.
Visita técnica
A elaboração de laudo inicial contou com a visita dos técnicos Thiago Pires (Engenheiro Florestal do Jardim Botânico) e Erich de Castro Dias (Biólogo do departamento de Meio Ambiente), Eduardo Martinho e Stephany Prado (arquitetos e urbanistas da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente), que observaram a presença de árvores exóticas como falsas-seringueiras, leucenas ou sibipirunas com saúde comprometida, assim como constataram o baixo número de espécies vegetais.
Esses pontos orientam o projeto de manejo, que prevê o plantio de árvores nativas em espécies variadas no novo paisagismo, além de considerar também os pontos de convívio de pessoas (mini-praças ao longo do percurso) e os pontos de visibilidade, priorizando o resgate de uma das funções originais desse sítio histórico, que é a de belvedere (mirante), aproveitando a bela vista que se descortina a partir de seu ponto mais alto.
As espécies
O Jardim Botânico selecionou dentro do seu objetivo de pesquisa, educação ambiental e conservação de espécies da região de Jundiaí, uma seleção com histórico econômico e cultural para cidade, bem como espécies que estejam ameaçadas de extinção local ou que sofreram sobreexploração para uso na construção civil e nas indústrias da região.
Na primeira ação prevista no projeto, foi proposta uma coleção de espécies de árvores de grande porte nativas de Jundiaí com uso histórico na produção de madeiras para movelaria e construção civil, conhecidas popularmente como “madeiras de lei”. São elas o Angico-branco, a Canjerana, o Cedro, o Guanandi, a Guaritá, o Guatambu, o Jacarandá-paulista, o Jatobá, o Jequitibá-branco, o Ipê-amarelo-da-mata e o Saraguaji.
Em outra vertente, o local é adjacente ao rio Guapeva, que nasce e termina em território municipal com 9 quilômetros de extensão na maior bacia hídrica urbana e que leva o nome de uma planta que teria servido de alimento e medicamento para um povo indígena apontado como Guaianás no passado remoto. O nome de Guapeva (ou Guapeba) envolve várias espécies botânicas com esse nome popular dos gêneros “Pouteria e “Chrysophyllum”, da família das Sapotáceas.
Nesse contexto, outro grupo de plantio será formado por essas árvores de porte entre 8 a 20 metros e presentes em diversos biomas brasileiros que também incluem o nome de Abiu. De forma geral, foram definidas variedades de Chrysophyllum imperiale, Pouteria bullata, Pouteria caimito, Pouteria gardneri, Pouteria gardneriana, Pouteria ramiflora, Pouteria torta e Pouteria venosa.
História
O nome original do local (Esplanada do Monte Castelo) teve sua origem na homenagem aos integrantes jundiaienses da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutaram contra o nazifascismo na Itália durante a 2ª Guerra Mundial em 1945. Também integra esse conjunto um obelisco, que atualmente está dentro da área da Escola Estadual Antenor Soares Gandra.
Trecho complementar
A esplanada também inclui um segundo trecho com vegetação mais densa, situada no contorno do morro entre a parte alta da Esplanada e a Ponte Torta, que está sendo desenhado para uma intervenção futura para a conexão entre o sistema de rampas e escadas do atual projeto e o Mirante da Ponte Torta, que está sendo construído em tijolos em identidade visual com o monumento.
Essas áreas verdes formam um sistema ambiental urbano associados ao Parque Linear do Rio Guapeva, que na concepção atual da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente prevê intervenções em seus nove quilômetros desde a chegada das nascentes da Serra do Japi e do Santa Gertrudes no trevo da rodovia Anhanguera com a avenida 14 de Dezembro até a sua foz no rio Jundiaí, que ocorre na Vila Graff.
Variedade de aves
Esse sistema ambiental urbano também envolve o trecho do futuro Parque Linear do Rio Guapeva entre a rua Vigário João José Rodrigues e a rua Prudente de Moraes, inserido no contexto de intervenções atuais em contrapartida, e receberá a implantação de trecho do Parque Guapeva com paisagismo específico, pista de caminhada e ciclovia.
Um levantamento rápido de avifauna realizado voluntariamente pelo ecólogo especializado em ornitologia (estudo de aves) Renan Augusto Bonança identificou nada menos que 17 espécies em apenas uma hora de observação especializada no período de nidificação, em fevereiro. O profissional é especializado pela Universidade Estadual Paulistas (Unesp) na relação bioestatística entre presença de aves e conservação dos ambientes de entorno (como nos parques municipais). Bonança fez também um levantamento, primeiro entre 2008 e 2009, no Parque da Cidade, no Jardim Botânico e no Parque do Corrupira e posteriormente incluindo também o Parque do Tulipas em seu mestrado em ecologia na Universidade Estadual Paulista (Unesp), entre 2012 e 2014.
“Esse resultado embasa o desenvolvimento do projeto em andamento para o Parque Linear do Rio Guapeva, que teve aquele trecho alterado em suas diretrizes legais para preservá-lo do uso das margens pelo sistema viário como acontece em grande parte de sua extensão, reforçando assim a necessidade da manutenção de suas características naturais”, afirma a secretária Daniela da Camara Sutti, de Planejamento e Meio Ambiente.
A identificação de espécies de aves apontou naquela ocasião a presença nesse sistema ambiental que envolve o Escadão e o Rio Guapeva de variedades de joão-de-barro (Furnarius rufus), do bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), do suiriri (Tyrannus melancholicus), da corruíra (Troglodytes musculus), da saracura-do-mato (Aramides saracura), do beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura), da lavadeira-mascarada (Fluvicola nengeta), da pomba-de-bando (Zenaida auriculata), do pombo-doméstico (Columba livia), do pardal (Passer domesticus), do periquitão-maracanã (Sittacara leucophthalmus), do ferreirinho-relógio (Todirostrum cinereum), do periquito-rico (Brotogeris tirica), da rolinha-roxa (Columbina talpacoti), da andorinha-pequena-de-casa (Pygochelidon cyanoleuca), do sanhaçu-cinzento (Tangara sayaca) e do tuim (Forpus xanthopterygius).
O levantamento é informal e o número pode ser muito maior. Apenas no portal Wikiaves, o município de Jundiaí tem 297 registros de espécies de aves.
Os levantamentos botânicos da cooperação interssetorial da Prefeitura visam, entre outros objetivos, ampliar a oferta de espécies vegetais para reforçar a diversidade ambiental junto a essa área de convívio urbano, também marcada pelo patrimônio histórico e ambiental.
José Arnaldo de Oliveira
Fotos: Fotógrafos PMJ
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