Grupo de Apoio à Vida de Jundiaí busca novos voluntários
Publicada em 13/11/2015 às 16:39Após um tempo silencioso, o chamado do telefone irrompeu pela sala e colocou um ponto final na calmaria do pequeno ambiente. Do outro lado da linha, uma voz trêmula, ora aflita, de alguém que buscava por algum oásis de atenção em meio à impessoalidade dos tempos modernos. O caso é apenas mais um dentre inúmeros exemplos do dia a dia no Grupo de Apoio à Vida (GAV), entidade prestes a completar 40 anos de atividade em Jundiaí.
A coordenadora e voluntária da instituição, Bernadete do Amaral Carneiro, foi quem atendeu a ligação destacada no início do texto, já há algum tempo. Para a analista fiscal aposentada, um caso marcante dentro dos dez anos em que ela atua na entidade. “Essa ligação durou cinco minutos, mas marca. A pessoa disse que há muito tempo ouvia que as paredes têm ouvidos, mas que elas nunca respondiam. Depois, comentou que tudo o que queria naquele momento era receber um boa noite sincero de alguém. E foi o que eu fiz.” O rápido contato foi encerrado com um agradecimento. “A pessoa me disse: ‘Muito obrigado, de coração. Era só o que eu queria’.”
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“Muita gente ainda se surpreende quando descobre que esse serviço existe”, salienta Armando Heimann, um gaúcho bem articulado de 76 anos, engenheiro mecânico aposentado, que adotou Jundiaí em 1970. Armando tem quase 15 anos de trabalho voluntário ao telefone. Confessa que ganhou muito mais do que deu em troca.
“É uma atividade que ampara as pessoas que ligam aqui, mas, tenha a certeza disso, nos ajuda muito mais”, garante, olhando para a mulher – também voluntária – Júlia Fernandes Heimann. “O exercício de ouvir, entender, aceitar, evitar julgamentos, enfim, de encarar o outro com a compreensão de que se trata de um ser humano. Esses conceitos regem nosso casamento.”
A escritora Júlia é a mais experiente do grupo. Entre idas e vindas, tem 30 anos de uma prática quase que diária de disposição e respeito para se dedicar a ouvir o drama alheio. Quando entrou para o grupo, em 1979, a instituição ainda recebia o nome de Centro de Valorização da Vida (CVV). “Todo CVV atende 24 horas. Para nos adequarmos a essa realidade, precisaríamos de 53 voluntários, pelo menos. Hoje, contamos com 16, que se revezam em turnos de três horas”, explica.
Jabneel de Oliveira deverá ser um deles. Pela primeira vez visitava e conhecia o espaço, atraído por uma reportagem que lera na internet. O projetista de 38 anos quer fazer do tempo ocioso um canal de colaboração social. A partir de agora, ele inicia um rigoroso treinamento que vai capacitá-lo a aguçar a sensibilidade para dizer o primeiro “alô”.
Mais ajudaEm janeiro, um treinamento vai ter por objetivo capacitar o maior número possível de voluntários. A meta é expandir o horário de atendimento, que hoje funciona todos os dias, inclusive feriados e dias festivos, das 13h às 22h.
No meio do papo, o telefone toca. A reportagem, então, é convidada a sair do local. Todas as conversas ocorrem em estrito sigilo. Nada é gravado e o telefone não conta com identificador de chamadas. O objetivo é outro. A voluntária Dayse Furlam, que se queixava de um dor de dente daquelas, pede discrição e privacidade. Atende ao telefone e a dor dela desaparece na sequência. Algumas chamadas duram até três horas.
O trabalho dá-se num histórico prédio de 20 m² cedido pela Prefeitura de Jundiaí no Complexo Fepasa – a entrada fica ao lado do acesso para o Poupatempo. Ali estão há dois meses, após anos de atividade no Centro das Artes – em franco processo de revitalização.
Com a média de 300 atendimentos por mês, o grupo é categórico em apontar a solidão como o principal mal do século 21. Paradoxalmente à era da comunicação digital, eles sentem – e ouvem – as agruras de quem se enxerga inadequado, sozinho, triste.
“Perdemos a sensibilidade de ouvir e tentar entender o outro”, acredita o voluntário Daniel Ângelo, que vem de Jarinu três vezes por semana para atuar no grupo de Jundiaí. Aos males da carência e solidão, essa equipe dispõe do melhor remédio: o amor.
Para saber mais, atuar como voluntário, ou mesmo para desabafar, o telefone é o 4521-4141.
Thiago Secco
Fotos: Alessandro Rosman
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