Estudantes reforçam as ‘lições’ da Ponte Torta
Publicada em 19/03/2015 às 14:50Em meio a palestras dos especialistas do Estúdio Sarasá no Centro Municipal de Educação de Jovens e Adultos (CMEJA), na noite dessa quarta-feira (18), uma das turmas adultas envolvidas teve momentos reveladores durante a abordagem sobre o cuidado com os tijolos no projeto Ponte Torta. “Para mim, que tenho familiares envolvidos em olarias de cidade vizinha, é uma violência quando vemos vandalismos, abandono ou pichações em um material que exige muito trabalho para valer algo como R$ 80 o lote de 500 tijolos”, explicou a estudante Joana Torresin.
Esse tipo de compreensão social, explicou Toninho Sarasá, é a principal esperança para o patrimônio cultural brasileiro. Ele tratou, com muitos exemplos de casos, dos saberes e fazeres como parte desse legado ancestral (ao lado dos elementos naturais ou dos bens materiais como artefatos ou construções).
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“Não podemos perder as técnicas, como todo mundo sabe, seja para as formas de produzir, de dançar, de cozinhar ou até mesmo mais além, nas chamadas paisagens culturais”, afirmou ao explicar que um bem tangível ou material pode ser reconhecido no tombamento e um formato intangível ou imaterial deve ser registrado.
Quando se perde a tecnicidade adequada, surgem as intervenções erradas que podem prejudicar o resultado original. Ao notar que restaurar era uma atividade fechada à comunidade e que acabava exigindo tempos depois um novo grande investimento, ele desenvolveu o conceito de zeladoria: o trabalho de envolvimento que leva à atribuição de valor a um bem coletivo. Ou seja, é preciso conservar e isso exige a estruturação disso na sociedade (até para que não dependa apenas do governo).
Educação patrimonial
Organizada pela professora de artes Ciça Seron, que vem trabalhando o tema, a iniciativa contou ainda com o apoio de Flávia Sutelo e Magda Rosa na equipe da palestra. Foi bastante diferente a reação dos estudantes adultos diante da montagem do “arco” de espuma sintética como alusão a essa tecnologia romana herdada pelo Ocidente, com observação prática da resistência de apoio a 1/3 da altura ou a relação de senos e cossenos.
“A palestra foi boa porque mostra que a sabedoria dos antigos é um patrimônio cultural. A gente vê coisas no cotidiano como gente querendo consertar o telhado sem notar que o problema é na estrutura de madeira, por exemplo. E confirmamos que uma boa limpeza das telhas, por exemplo, pode ajudar muito na qualidade e na conservação”, comentou o técnico aposentado Sebastião Manoel.
O projeto Ponte Torta, lançado em setembro e em fase de conclusão, reúne os aspectos de zeladoria material (intervenção no monumento) e zeladoria imaterial (aspectos educativos). Ao longo de seis meses, formou um mosaico de informações com depoimentos emocionantes de moradores, pesquisas históricas, detalhes técnicos e ações descentralizadas.
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Nas oficinas mais didáticas, o projeto passou pelo Complexo Argos, pelo Complexo Fepasa, pelo Parque Comendador Antônio Carbonari (Parque da Uva), pelo Jardim Novo Horizonte ou pela avenida Nove de Julho, além de trabalhos específicos com estudantes do Sesi e das palestras especializadas que acabaram recolocando a Ponte Torta como símbolo de uma transformação urbana e industrial de Jundiaí na virada do século 19 para o século 20. A experiência deve gerar uma publicação didática da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente neste ano.
Novos passos
O projeto entra na fase de conclusão com preparativos do monumento e também para uma adequação da praça, além do belvedere (mirante) no início da Esplanada do Monte Castelo. Outras atividades finais ainda estão sendo definidas.
“Agradeço a generosidade da equipe, foi uma boa oportunidade para nossa discussão em classe”, afirmou a professora Ciça Seron.
José Arnaldo de Oliveira
Foto: Dorival Pinheiro Filho
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